LUCKY GIRL

Notícias de um vôo particular... ou: aventuras de uma garota sortuda!

Ontem, 16h, recostada em uma poltrona no Aeroporto Internacional de Charleston (existe, sim, um aeroporto internacional menor que o de Porto Alegre!), estava pensando: “Sou sortuda... nunca tive um atraso de vôo na minha vida”. Tá certo que a minha vida “aérea” não é assim tão intensa, mas tenho algumas horas de vôos... e aviões fora de horário nunca foram um problema pra mim!
Então, estava eu lá, tentando acessar a Internet na sala de embarque, aguardando às 16h35, hora marcada para o “início dos trabalhos” no portão B5, acesso ao vôo das 17h10. Nada do pessoal da Continental, estranho... 16h45 eles avisam que o vôo estará atrasado, sairá apenas às 17h30. “OK, penso eu, ainda sou sortuda, só 20 minutos de atraso”. Mas ainda nada de embarque... 17h10, 17h20, 17h30... 17h45 eles avisam que devido a tempestades furiosas em Houston, não poderemos partir e que certamente antes das 19h será impossível de viajar. Chamam todos pro “quiosque” e lá vem fila... conversando com a responsável pela nossa “realocação” (estressada, estressada), descubro que todos os vôos com destino a Houston estão atrasados, e que, consequentemente, o meu que vem da Flórida também estará atrasado e sairá de Houston para Phoenix apenas às 23h15. Tranquila, aguardo para embarcar depois 19h, com previsão de chegar em Houston às 21h30. Mesma sorte não tem a canadense que estava com viagem internacional pra Londres: certamente perderá o vôo das 21h. Outra passageira, com viagem para o México, fica mais contente ao saber que seu vôo igualmente sairá depois do horário marcado em Houston.
Novo anúncio: 18h45 e “estaremos embarcando nos próximos minutos” – avisam as doidinhas estressadas – “as tempestades já se foram para longe do Texas”. E lá vamos nós, o procedimento é rápido e o piloto avisa que fará o máximo para chegarmos o mais rápido possível em Houston. A viagem começa tensa, acho que a tempestade voou pro leste, vindo na nossa direção. Para amenizar, as aeromoças capricham no snack, já que até MM´s aparecem na bandeja de lanche. Menos de uma hora de vôo, novamente a voz do comandante: estamos com problemas em Houston novamente, teremos que voar em círculos, diminuir a velocidade, e a viagem, prevista para duas horas será acrescentada em alguns minutos – mais precisamente 60 minutos.
Mas eu sou uma garota de sorte, terei bastante tempo em Houston, quem sabe para uma pizza, uma janta quentinha – já começo a sonhar. Finalmente chegamos em Houston às 21h30 (uma hora a menos do nosso embarque) e eu saio do avião com a tranquilidade de uma lesma, uma lesma contente e sortuda. Decido passar os olhos pela tela das saídas programadas, para conferir meu vôo das 23h15 e decidir qual seria o sabor da minha pizza... quando, em letras vermelhas, VÔO CONTINENTAL 1428 EMBARQUE AGORA: 9:40 PM. WHAAAAAAAAAAAAAT?? Olho de novo, agora com mais precisão e confirmo que este é o último vôo pra Phoenix desta noite. Como uma lebre, me ponho a correr, pois estou no portão B2 e tenho que pegar o trem até o portão E6 em menos de... ih, já passou das 21h40... mas corro mesmo assim... (outros tantos correm pelo aeroporto também).
No portão E6, fila dos desesperados: com quase todos os vôos atrasados, as pessoas reclamam, crianças choram, conto mais de 15 pessoas aguardando lugar para entrar no mesmo vôo para Phoenix. Quase desisto, mas tenho minha passagem em mãos e meu assento marcado (parece que isso é bem importante!). São 21h50 e no painel o novo horário para saída do avião: 9:55 PM. Garota de sorte: entro no vôo. Garota de azar: já tem gente na minha poltrona. Garota de sorte: um comissário de bordo me entrega um bilhete de cliente especial (afinal, essa garota de sorte “é muito importante pra nós”), que me dá direito a um drink no vôo, desconto de 15 dólares no freeshop e headset para filme. Descubro que o desconto no freeshop só vale se eu gastar outros 50 dólares e que o fone de ouvido não será funcional, já que esta aeronave não possui telas de TV para assistir aos filmes... jóia! Ao menos, eu tenho o drink – e posso escolher qualquer um! WOW!
Ao meu lado, uma senhora de 75 anos conversa bem animada, contando sobre seu marido que trabalhou como piloto de teste para a primeira nave espacial lançada à lua... seu nome é Christa. Quando a aeromoça se aproxima, ela lança – direto pra lua: “Bem que eu poderia tomar uma Margarita” e eu abraço a causa “Pois é isso que vamos beber...”, apresento meu “VIP CARD” e recebo duas Margaritas, já que “a senhora está comigo”! Dona Christa se anima ainda mais (seria possível?) e passamos das risadas às gargalhadas em minutos, para o cansaço e a soneca em meia hora. Eu, contente, “garota de sorte”, estou pronta para um soninho... quando o comandante da nova aeronave alerta: ventos de 55 nós em Phoenix e a aeronave só está autorizada a pousar com a velocidade de 35 nós (oh, my god, qual é o significado disso em km/h? Descubro hoje que são ventos de mais de 100 km/h). Não podemos pousar nos arredores também. Solução: voar para Albuquerque, Novo México e aguardar “posição”. O comandante se desculpa por não possuir nenhuma informação extra, a única coisa que pede é PACIÊNCIA! E que paciência... aeronave em solo, aos poucos vamos observando pelas janelas do avião inúmeras outras aeronaves que se aproximam, nas mesmas condições. Duas horas e meia depois – sim, 2h30min adiante – todos intensamente cansados, ambiente pesado, quente, banheiros sem condições de uso, fome, MUITO sono... e o comandante enfim avisa que temos liberação para partir. A cada 15 minutos recebíamos alguma informação por parte dele, ou dizendo que não havia “nada a declarar”, ou avisando qual o nosso “ranking” na fila dos aviões que aguardavam para decolar. Finalmente, às 2h chegamos em Phoenix (menos uma hora de diferença de Albuquerque). Contabilizo a palavra que mais escutei no dia de hoje: paciência – mais ou menos umas 18 vezes ela bateu e voltou ao meu ouvido... mas, no final de tudo, I´m a lucky girl! Eu sou uma garota de sorte: cheguei ao meu destino!

PS.: As imagens virão no final de semana...