21/05/2010

Palmadas em crianças

Hoje, no Jornal O Informativo do Vale:

PALMADAS EM CRIANÇAS: DÓI EM QUEM?




Suzana Feldens Schwertner, psicóloga (CRP07/11446) e doutora em Educação (UFRGS)

E-mail para contato: suzifs3@hotmail.com



Com a disposição, em lei, do projeto contra castigos infantis, ressurgiu o debate sobre as conhecidas “palmadas” em crianças. Alguns a batizaram de “palmada educativa” ou “palmada terapêutica”, o que, a nosso entender, não abarca os aspectos de cuidado, atenção e proteção que os adultos responsáveis devem exercer com as suas crianças.

Pedagogos e psicólogos se colocam a debater sobre esse tema tão controverso, mas nunca superficial. Nos últimos anos escutamos notícias como “bebê ensacado às margens da Pampulha”, “pais suspeitos de atirar criança da janela de um prédio”, “criança morre de espancamento pela própria mãe”, “maus tratos em criança adotiva”, e aquilo que poderia ser apenas uma “simples” palmada evolui para algo bem maior.

Sigmund Freud, intitulado pai da psicanálise, no volume XXIII de suas Obras Completas trata sobre o interesse educacional da psicanálise. Para o autor, os meios de coerção externa – por exemplo, as palmadas dos pais – não produz a extinção dos instintos da criança. Ao contrário, o “tapinha” conduz a uma repressão da agressividade, podendo criar, inclusive, “uma predisposição para doenças mentais no futuro”.

Seria ainda possível falar em palmadas terapêuticas? Seria possível educar com violência? A palavra parece forte – violência – mas é sobre ela mesmo que temos que pensar, pois um simples “tapinha” também dói e é um sinal de violência. E as marcas ficam, sejam elas externas ou internas. Os pequenos vergões avermelhados ou os grandes hematomas purpúreos podem desaparecer com o tempo, mas o ato de violência continua sendo o mesmo: covarde, não consegue se utilizar da palavra, da negociação e do diálogo para resolver o dilema. Pois a violência é isso mesmo: muda, silenciosa e surge quando as palavras já não dão mais conta do recado.

Palmada em crianças: dói nelas, mas sobretudo dói em todos nós, pois a partir do momento em que precisarmos resolver todas as nossas questões “no braço”, é sinal de que necessitamos retornar ao tempo das cavernas e iniciar todo o processo civilizatório outra vez.

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